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Romaria dos Mártires da Caminhada

Publicado em 31/07/2016 às 22h09

ROMARIA DOS MÁRTIRES DA CAMINHADA: MEMÓRIA, PROFECIA E COMPROMISSO

“Ribeirão bonito, Cruz do Padre João, Alta Cascalheira, gentes do sertão. O suor e o sangue fecundando o chão.  Dentre tantas experiências que passamos durante nossa vida terrena, algumas deixam fortes traços em nosso ser e existência, ou como melhor retratou o poeta são “marcadas com fogo para jamais nos esquecermos”. Foi assim que vi, ouvi e testemunhei a Romaria dos Mártires da Caminhada nos dias 16 e 17 de julho de 2016 em Ribeirão Cascalheira. O aspecto da caminhada sempre esteve presente na vida do Povo de Deus. Na experiência da América Latina isto se configurou mais forte ainda. Os romeiros e romeiras que participam desta romaria são pessoas de caminhada. Caminhada de grupos sociais, de lutas, de pastorais, de grupos de solidariedade, compromisso com o próximo, de CEBs.  São pessoas de diferentes sotaques, culturas e etnias diversas, mas, com uma característica comum: são sonhadoras e sonhadores do reino da vida. É isto que os une; um sonho de que um mundo liberto possível! Jamais se afaste de seu povo, daqueles que estão ao seu redor, principalmente dos mais fracos. Pedro Casaldaliga para Everton Pavilaqui Bem no centro-oeste brasileiro, em meio ao cerrado, gente com traços indígenas, retirante, gente do sertão, gente do Araguaia: é neste chão, marcado por lutas que a prelazia de São Félix do Araguaia convoca este povo para a romaria. Enfrentando a poeira e a distância todos se reúnem para fazer memória dos Mártires da Caminhada, homens e mulheres que deram a sua vida, derramaram o seu sangue pelas causas que acreditavam, justiça, liberdade e paz. São vidas pela vida do povo. Vidas pelo reino da vida! No decorrer de todos os acontecimentos presentes na Romaria, um jamais sairá de minha mente, de meu coração e principalmente de minha vida: O encontro com Dom Pedro Casaldáliga. Ainda conservo uma imagem nítida deste encontro: ainda vejo sua figura de aspecto extraordinariamente frágil, sentado em uma cadeira de rodas e com um olhar penetrante e atencioso que envolvia a cada um ao seu redor. Em meio àquele clima silencioso das árvores ao redor, nos fundos de sua casa, em sua pequena capela, brotavam lágrimas de todos nós; lágrimas de alegria, mas, principalmente de esperança. Alegria em poder conhecer Pedro Casaldáliga e esperança pelo ânimo que ele deu com suas poucas palavras para cada um de nós. Ao apresentar-me como seminarista pude ouvir:  “Há seminaristas sem povo ou que simplesmente se afastam dele! Jamais se afaste de seu povo, daqueles que estão ao seu redor, principalmente dos mais fracos. Se preciso for, dê sua vida por eles! Continue! Seguir Jesus vale a vida; mesmo que seja até as últimas consequências”.  Foram com estas palavras que Pedro dirigiu-se a mim. Foi impossível   conter as lágrimas sob o peso   das palavras pronunciadas pelo profeta do Araguaia. Também pela suavidade que foram ditas, alcançando-me com amor extraordinário.  Certamente estas palavras encorajam cada vez mais em não desistir de lutar por aqueles que são esquecidos, que ficam à beira da sociedade, sejam os indígenas até aos indigentes nas grandes cidades. Enfim, Bispo Pedro é águia voa alto e incita seus “filhotes” a também voar, a não ter medo de altura.  A viver a vocação. Seu voo é alto para melhor medir a pequenez das ambições humanas. Como também simboliza a grande valentia, Pedro também simboliza a paz. É pomba e águia. É um grande guerreiro que jamais calou sua voz perante as injustiças e maldades humanas. É um guerreiro em missão de paz, de justiça e de fraternidade! Ele inspira vocação para servir. Amém, Axé, Awiri, Aleluia.  Everton Pavilaqui  Estudante de Teologia Seminário Maior Nossa Senhora de Belém Curitiba PR Diocese de Guarapuava

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